A crise política atual do Brasil e suas implicações econômicas

Fábio L R Simão. Professor dos cursos de Administração e Gestão de Empresas (Processos Gerenciais). Mestre em História. Doutorando pelo Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal de Juiz de Fora

Publicado em 17 de maio de 2016

Lojas vazias são retrato da crise (Foto: MorgueFile.com)

Fábio L R Simão. Professor dos cursos de Administração e Gestão de Empresas (Processos Gerenciais). Mestre em História. Doutorando pelo Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal de Juiz de Fora

Em 2009, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou aquela que seria a maior descoberta de petróleo do país, seu “passaporte para o futuro”. No mesmo contexto, o Brasil obteve concessão para sediar a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Uma das economias mais imponentes do mundo alavancava projeção internacional de monta significativa. Os BRICS apontariam também nessa direção. A crise financeira global deixava espaços para novas conexões do Brasil na África e na Ásia. Assim o efervescente mercado de commodities, por exemplo, dava mostras da atraente e promissora economia do Brasil num cenário de francos declínios e oscilações internacionais. Era tardia, mas consistente, a mudança de posição internacional do Brasil.

Depois do rápido sucesso das commodities e da expansão da economia interna brasileira, todavia, o cenário foi de uma recessão tão profunda e longa que foi chamada de “depressão econômica definitiva” pela Goldman Sachs — grupo multinacional do segmento financeiro dedicado a investimentos e gestão de valores mobiliários.

A crise deflagrada com a operação Lava Jato, realizada em conjunto pela Justiça Federal, Ministério Público Federal e Policia Federal para investigar crimes de corrupção, desvio, improbidade, lavagem de dinheiro, pagamento de propina e trafico de influencia, envolveu membros da elite nacional e políticos importantes, inclusive diretamente ligados ao atual governo. E tudo envolvendo exatamente a gigante estatal do petróleo, a Petrobras. Assim o Brasil do pré-sal torna-se o Brasil dos escândalos.

Os promotores acusaram Lula, que nega qualquer irregularidade. Sua sucessora, Dilma Rousseff, enfrenta hoje um processo de impeachment no Congresso Nacional. E a nação, estarrecida, atuante, mas por vezes sem um norte especifico a seguir, assiste e discute a situação nas redes sociais a todo o tempo.

Dilma sinalizou sua determinação para travar um “tudo ou nada” para permanecer no cargo, nomeando Lula para seu gabinete em meados de março. Um juiz federal, contudo, suspendeu a nomeação, que protegeria Lula da acusação por qualquer agência diferente do Supremo Tribunal e permitiria aproveitar suas habilidades de negociação de renome para defender Rousseff de um possível impeachment. Seguiu-se um protesto antigoverno que foi uma das maiores manifestações da história moderna do Brasil. A economia brasileira, maior da América Latina, encolheu 3,8 % no ano passado –marca recorde em um quarto de século. A moeda perdeu mais da metade do seu valor desde 2011, quando Rousseff subiu ao poder. Rousseff mal ganhou a reeleição em 2014, comprometendo-se a combater a inflação, que está nos dois dígitos. Ao assumir o cargo com um inédito déficit orçamentário, seu governo aumentou os impostos e restringiu os gastos do governo, em diferentes áreas, visando equilíbrio orçamentário. Um ano depois, anunciou um pacote de crédito para agricultura, infraestrutura, indústria e construção no valor de cerca de R$ 76 bilhões, em uma tentativa de reanimar a economia. Acusações de que ela alterou contas para minimizar o tamanho do déficit orçamentário são a base para o processo de impeachment contra ela. Ela nega qualquer irregularidade.

O Brasil sofreu ciclos de expansão e retração e instabilidade política desde a independência de Portugal em 1822. No papel, o Brasil parece uma potência: é o quinto maior país do mundo, pela massa de terra e de população; suas reservas de petróleo ‘offshore’ incluem a maior descoberta do hemisfério ocidental desde 1976; tem a segunda maior reserva de minério de ferr; é o segundo maior produtor de soja e terceiro maior do milho. Por outro lado, sua distribuição de riquezas permanece entre as mais desiguais. Foram tempos em que o balanço de pagamentos e um relativo equilíbrio tributário se tornaram modelo internacional para a erradicação da pobreza. A nova classe média foi às compras, impulsionando o crescimento. Agora, com os preços das commodities caindo e pulverização da indústria, esse modelo parece não mais no seu curso.

De mais a mais, isso tudo parece ter coerência com um governo que pretende trazer para níveis econômicos de classe média as classes historicamente menos favorecidas do Brasil. O fato é que, para isso, é preciso uma política de repasse e fiscalização muito coerente e precisa. Não que o governo não tenha essa estrutura, mas quando tudo isso pode ser usado em benefício de grupos políticos interessados no poder pelo próprio poder e no governo para o bem próprio, a gestão e o sucesso desse empreendimento pode comprometer a credibilidade da nação como um todo e, com isso, dos investidores internacionais que repatriam dólares contribuindo ainda mais para a desvalorização da moeda. Tudo isso mostra o quanto a crise política pode causar crises econômicas e aumentar a sensação de instabilidade diante dos mercados nacional e internacional.