GREP Disserta: E por falar em Sexualidade...          Como andam as crianças?

Este é um espaço reservado para @s participantes do GREP - Grupo de Estudos em Psicanálise - debaterem quinzenalmente um tema levantado pelo grupo, algo que seja revelante e que enseje reflexão da comunidade acadêmica e da população geral sobre temas cotidianas e caros à psicanálise. A ideia desta coluna, portanto, é que @s própri@s estudantes se mobilizem a produzir uma reflexão pertinente e socialmente importante.

Publicado em 09 de novembro de 2017

Ao se pensar em Psicanálise, comumente algumas pessoas podem relacionar alguns de seus conceitos com situações cotidianas, são recorrentes frases como: “Essa menina é histérica!”, “Para com essa paranoia!”, ou até mesmo “Fulano possui um complexo de Édipo!”. Estes termos populares fazem referência a teorias desenvolvidas por Sigmund Freud, conhecido como “O pai da Psicanálise” e, ao discorrer desta notícia, teremos a oportunidade de refletir sobre alguns termos psicanalíticos na atualidade, possuindo o foco no desenvolvimento da sexualidade infantil.

 

Sigmund Freud, criador da Psicanálise, ao publicar sobre sexualidade infantil no ano de 1905 em sua obra “Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade” impactou a sociedade com sua teoria que indagava uma visão ainda enraizada sobre a infância, na qual crianças eram dotadas apenas de pureza e uma possível ingenuidade.  Além disso,  apresentou ideias relacionadas à libido, masturbação infantil e, pontualmente, descentralizou a sexualidade como ato meramente reprodutivo e exclusivo dos adultos. Este ao discorrer em sua obra, enfatiza a ideia que o homem desde seu nascimento busca por sensações prazerosas movidas por pulsões, o que é denominado pelo mesmo como produtos inconscientes. Deste modo contrapõe a visão da sexualidade coberta por moralidades e que se inicia apenas na puberdade.     

A partir de vários anos de estudos e de obras publicadas pelo referido autor, o entendimento do funcionamento da sexualidade infantil, mesmo que possua sua complexidade, passou a ser analisado em um novo formato mais cuidadoso e preciso. Entretanto seria a sexualidade vivenciada da mesma forma por crianças contemporâneas (em especial as ocidentais), uma vez que se está frente a todos os avanços do século XXI? 

Os meios de comunicação modernos como a internet, aumentam o poder de aquisição de informações de muitas pessoas, sendo simples defrontar-se com temas complexos e, por vezes, delicados. Caso o sujeito seja uma criança e possua acesso sem restrições adequadas, isto pode impactar significativamente em seu desenvolvimento sexual. Somos diariamente bombardeados por conteúdos de cunho sexual que favorecem a banalização da sexualidade em determinados lugares e situações. Assim ao exporem deliberadamente conteúdos eróticos, estes veículos passam a ser responsáveis pela possível influência em como uma criança vivenciará seu desenvolvimento sexual.

O ponto principal a ser levantado é sobre riscos deste tipo de exposição, pois além do desenvolvimento sexual fluir de forma singular em crianças expostas desde muito cedo a estes conteúdos, este pode interferir de forma direta ou parcial em sua estruturação psíquica, afetando sua personalidade e o relacionamento com os outros indivíduos.

Além dos meios de comunicação, outros fatores predominantes nestas modificações são as novas constituições familiares. É possível compreender que muitos modelos familiares contemporâneos não seguem mais os mesmos moldes vividos pelas famílias do século XVIII e XIX, época em que Sigmund Freud desenvolveu suas teorias. Este fato pode nos fornecer alguns subsídios para possivelmente questionar acerca do desenvolvimento sexual de uma criança dentro das famílias contemporâneas como; filhos criados apenas pela mãe ou pelo pai, educados por parentes próximos como tios ou avós, ou por casais homoafetivos, dentre outros. Partindo desta reflexão, Freud ao escrever sua teoria enfatizava a visão dos indivíduos como significantes para esta criança, isto é, mãe e pai são figuras representativas, na qual a mãe atua como provedora de proteção para essa criança, e o pai é quem introjeta princípios morais, dando-se pela castração. A partir desta ideia de sujeitos como significantes, é possível que entendamos que uma criança nascida ou posteriormente instruída em um lar que não segue o modelo triangular de família, não necessariamente vivenciará sua sexualidade de forma ruim ou traumática. Podemos pensar algumas destas modificações a partir do Complexo de Édipo, este termo se refere a um conjunto de sentimentos e experiências vivenciados por uma criança em relação às figuras materna e paterna. Neste, o menino desenvolve sentimentos incestuosos pela mãe e contrariamente sentimentos de ódio e ciúmes pelo pai, o mesmo acontece com a menina, contudo os sentimentos incestuosos são voltados para o pai e os de raiva e ciúmes são destinados à figura da mãe. A ideia aqui não é a de questionar a aplicabilidade das teorias freudianas atualmente, mas sim analisarmos como se dá a construção do complexo de Édipo em uma nova época muito diferente da qual viveu o criador desta teoria.

Independentemente do século vivido por uma criança, sabemos que o desenvolvimento de sua sexualidade deve ser respeitado de forma integral. Sendo assim, o ponto desta discussão é voltar-se para o fato que o desenvolvimento da sexualidade infantil, deve ser acolhida por indivíduos e lugares onde essa criança sinta-se segura e propícia ao seu desenvolvimento saudável sexual e psíquico.

 

Autora

Carolina Lopes Santos: (Graduanda em psicologia na Univiçosa)

Revisão Conceitual: Luciana Torquato (docente do Curso de Psicologia da Univiçosa)

 

Referências Bibliográficas

RODRIGUES DE SOUZA, Mauricio. A psicanálise e o complexo de Édipo:(novas) observações a partir de Hamlet. Psicologia USP, v. 17, n. 2, 2006.

SFOGGIA, Ana; KOWACS, Clarice. Sexualidade e novas tecnologias. Revista Brasileira de Psicoterapia, v. 16, n. 2, p. 4-17, 2014.