GEAS apresenta: A Constituição da Feminilidade

Este é um espaço reservado para @s participantes do GEAS - Grupo de Estudos em Assuntos Sociais - abordarem mensalmente um tema discutido pelo grupo, algo que seja relevante e que propicie uma reflexão da comunidade acadêmica e da população geral sobre temas que envolva o sujeito e o meio social. Assim, a ideia desta coluna é que @s própri@s estudantes se mobilizem a produzir uma reflexão pertinente e socialmente importante.

Publicado em 20 de junho de 2018

Autoras: Isabela Drumond Montezano, Isabela Soares de Freitas e Karina de Oliveira Fialho. Supervisora: Professora Emanuelle das Dores Figueiredo Socorro

Muito tem se falado sobre as questões de gênero na atualidade, visto que frequentemente nos deparamos com debates sobre tais aspectos. Diante as constantes mudanças nos comportamentos da sociedade, nos deparamos com novas experiências, seja na sexualidade, nos conceitos de gênero e sobre a reflexão da diferença sexual. Mulheres e homens aventuram-se em novos papeis e espaços, configurando novas formas de sociabilidade e de constituição da subjetividade. Embora novas experiências estejam surgindo, algumas questões ainda marcam as diferenças entre os sexos, principalmente no que se refere ao sexo feminino.

A pergunta "o que é ser mulher?"ou "o que é ser homem?" certamente irá render inúmeras pautas. Mas atrás do que parece óbvio para alguns, existem grandes histórias, e a das mulheres nos instiga ainda mais. Afinal, o que é ser mulher? O que querem as mulheres? Por que tanta insistência de falar sobre as mulheres e suas necessidades? Conhecemos muito sobre as histórias dos homens, aqueles que conquistaram terras, construíram impérios, inventaram objetos, os primeiros a chegarem à lua. E a mulher? Imagino que você saiba poucas coisas sobre as contribuições das mulheres na história, na ciência e/ou nas artes. Onde estávamos? De qual lugar falamos? Que lugar ocupamos na sociedade?

É comum referirmos a humanidade, aos sujeitos homens, afinal, foram eles que estiveram à frente da construção dessa história, escreveram suas experiências como algo universal e a história das mulheres desenvolveram-se a partir de suas representações, constituindo-se a margem da sua.

Há uma hierarquia que circunda o feminino e masculino, e nessa relação de poder as mulheres saem em desvantagem. A diferença entre os sexos viabiliza a desigualdade e anuncia o privilégio do modelo masculino. Essas desigualdades podem ser percebidas nos simples gestos, comportamentos ou as tarefas ditas femininas. Quem nunca ouviu a mãe dizer: “filha vá lavar a louça porque isso é tarefa de mulher”, e essa frase piora ainda mais quando as meninas –corajosas e resistentes – questionam porque os irmãos não podem também, Olhe se você não se lembra de alguma vez já ter ouvido a seguinte frase: “e desde quando isso é tarefa de homem, vê se pode”.

Pois bem, podemos citar inúmeras frases, comportamentos, brincadeiras que foram sendo construídas socialmente ao longo da história e possuindo um teor de delimitação quanto à definição de feminino e masculino, mas há um ponto nessa dualidade que sempre será manifestada da mesma forma, a posição que é imposta à mulher. Desde a época do século XVIII e XIX propagavam-se um discurso que possuía como tentativa de adequar as mulheres á determinadas características, restrições e funções que, além de colocá-la em posição inferior, estabelecia a ideia de feminilidade.

Vejamos bem, parece então que feminilidade foi associada à inferioridade não é mesmo? E é justamente isso que foi sendo construído. A mulher, aquela que possuí a feminilidade, que é frágil, doce. Quem não se lembra da “ilustre” frase: “Bela, recatada e do lar”, há ainda quem pensa que conotações desse porte não estão completamente carregadas de uma construção, além de uma enorme tentativa em colocar a mulher nessa posição, de sujeito inferior.

Vamos retornar um pouquinho da história, sobretudo, da construção de feminilidade. Feminilidade é compreendida enquanto um conjunto de características próprias das mulheres, vinculadas a aspectos do corpo dessas e a particularidade de procriação, devido a essa capacidade institui-se o lugar social da mulher – a família e as funções domésticas – o que atribui somente um caminho para as mulheres, a função de ser mãe. Frente a isso, deseja-se que a mulher corresponda a sua única função natural, regozijando e explorando qualidades próprias da feminilidade, qualidades essas que foram constituídas socialmente em cima de aspectos biológicos como: decência, pureza, mansidão, aceitação passiva frente aos desejos dos homens. E quais são as funções que se dizem ser dos homens mesmo? Não seriam a força, destreza, o provedor, o intelectual?!

Nota-se que os aspectos que circundam o feminino perpassam para além de aspectos somente referentes ao biológico, conforme a socialização, foram instituídos comportamentos, características, que definiriam uma essência feminina, assim como para os homens. Entretanto, como exposto, os homens ocupam uma posição de vantagem relação as mulheres, visto que estruturalmente dominam os espaços da sociedade. Propagar a ideia de uma essência feminina, só reforça os males que acompanham tal perspectiva, pois as imposições sociais colocam limites na vida de inúmeras mulheres. É necessário que haja reflexão e questionamento de todos os papeis que nos sãos impostos com justificativa de gênero, tendo em vista que são eles os responsáveis por sustentar a sociedade patriarcal em que vivemos. A batalha pela igualdade de direitos ainda é grande e está longe de acabar. Porém, se desistirmos, continuaremos em desvantagem pela eternidade.

Indicações:

O Segundo Sexo Fatos e Mitos, Simone de Beauvoir, 1970.

Documentário: She´s Beautiful When She´s Angry.

Referências Bibliográficas:

KEHL, Maria Rita. Deslocamentos do feminino. Imago, 2008. p.41-59.

SILVA, Elizabete Rodrigues. Feminismo radical–pensamento e movimento.Travessias, v. 2, n. 3, 2008.

STREY, Marlene Neves; CABEDA, Sonia Lisboa; PREHN, Denise Rodrigues. Gênero e Cultura: questões contemporâneas. In: COLLING, Ana. A Construção Histórica do Feminino e do Masculino. Porto Alegre: Edipucrs, 2004. p. 13-38.