É possível fabricar vidro em temperatura ambiente

A técnica consiste em preparar vidros a partir de reações químicas onde são utilizadas substâncias conhecidas como alcóxidos metálicos

Publicado em 25 de agosto de 2016

Foto: MorgueFile

Skarllet Toledo Caetano: Engenheira Química, Mestre em Engenharia Química na área de Ciência e Tecnologia de Polímeros. Professora do Curso de Engenharia Química da Univiçosa

Há mais de 4 mil anos o homem produz vidros através da fusão de matérias primas naturais como a areia e outros produtos. A técnica de fusão é utilizada até hoje na fabricação de vidros de janelas, louças, objetos de adorno, vidros ópticos, lentes, diversos sensores monitorados opticamente, materiais supercondutores e ainda incontáveis materiais com diversas aplicações. Para reciclar o vidro, é preciso também aquecê-lo até que tenha uma viscosidade suficientemente baixa para ser moldado e produzir a ampla gama de produtos que conhecemos. As temperaturas necessárias para esses dois processos dependem da composição do vidro, mas quase sempre se situam acima de 1000°C. Considerando essa situação, é difícil pensar em vidro sem pensar em fornos, energia, calor, elevada temperaturas. No entanto, existe uma maneira alternativa para produzir esse material à temperatura ambiente.

A técnica consiste em preparar vidros a partir de reações químicas onde são utilizadas substâncias conhecidas como alcóxidos metálicos. Essas reações são realizadas em temperatura ambiente, e forma um produto que é uma solução coloidal, conhecida por sol, e o produto da reação lentamente se convertem em um gel vítreo imerso num meio aquoso. Basicamente é um esqueleto de vidro embebido por uma fase líquida totalmente independente. Essa nova técnica recebeu o nome de processo Sol-Gel. Essas duas fases, sol e gel, dão nome à rota de síntese. Se secarmos o produto final, temos um vidro.

Um grupo de pesquisadores brasileiros, da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Rio Claro, desenvolveu uma técnica de secagem de géis utilizando gás carbônico em condições hipercríticas e obteve resultados bem interessantes: os vidros produzidos (de sílica) apresentaram densidade cerca de dez vezes menor que o vidro tradicional, ou seja, muito mais leves. Além disso, conseguiram também uma área superficial elevada, em torno de 1.200 m²/g.

De acordo com Edneia Silva no site Unesp Agência de Notícias “de maneira geral o processo de sol-gel apresenta inúmeras aplicações científicas e tecnológicas, permitindo preparar vidros com alto grau de pureza, homogêneos ou mesmo híbridos de vidros com componentes orgânicos, unindo a flexibilidade dos polímeros com a dureza dos materiais inorgânicos. Além de produzir materiais que funcionam como meio ativo para lasers, concentradores de luminescência, vidros com redução da transmissão de calor solar, vidros fotocrômicos (mudam de cor com a incidência de luz), vidros birrefringentes (possuem dois índices de refração), vidros termocrômicos (mudam de cor com a temperatura), vidros halocrômicos (mudam de cor em função da acidez do meio em que são imersos) e inimagináveis detectores que podem ser monitorados opticamente” De acordo com os pesquisadores, esses novos materiais vítreos estão sendo explorados por diversos institutos de pesquisas e indústrias.