Por que tantas pessoas associam trabalho a sofrimento?

Embora seja ineliminável da própria condição humana, o trabalho não é um objeto natural, mas uma ação essencial para estabelecer a relação entre o homem e a natureza e entre a sociedade e a natureza

Publicado em 25 de outubro de 2016

Foto: MorgueFile

Kerla Fabiana Dias Cabral: Administradora, Mestre em Administração. Professora dos cursos de Administração e Tecnologia em Gestão de Empresas da Univiçosa

Conta Romero na Odisséia que, por ter desafiado os deuses, Sísifo foi condenado a empurrar eternamente montanha acima uma rocha que, pelo seu próprio peso, rolava de volta tão logo atingisse o cume. O auge do desespero de Sísifo não estava na subida: o imenso esforço despendido não deixa lugar para outros pensamentos.

A descida, ao contrário, não exigindo esforço, é o momento em que Sísifo é confrontado com o seu destino: o aspecto trágico é conferido pela consciência de sua condição. O mito de Sísifo tem sido o epítome do trabalho inútil e da desesperança.

Embora seja ineliminável da própria condição humana, o trabalho não é um objeto natural, mas uma ação essencial para estabelecer a relação entre o homem e a natureza e entre a sociedade e a natureza.

E é nesta forma de se estabelecer esta relação que os indivíduos podem ver o trabalho de maneiras diferentes.

Ouvimos no cotidiano queixas sobre as condições de trabalho, outros sonham com um mundo onde não precise trabalhar, outros querem se aposentar logo, outros após se aposentar se reinventam porque não conseguem viver sem trabalho, outros falam muito do seu trabalho pois gostam muito do que fazem.

Mas o que faz com que uns achem o trabalho prazeroso enquanto veem neste um sofrimento?

A resposta não está ligada apenas a um fator, assim deve ser analisado através de uma visão multidimensional.

A satisfação no trabalho é parte fundamental para que o indivíduo produza com qualidade, tenha bom desempenho nas suas atividades e se sinta bem na organização.

Dessa forma é importante que os gestores observem cinco fatores que estão diretamente ligados a satisfação no trabalho, de acordo com a visão multidimensional da psicologia organizacional e do trabalho: Chefe; Salário; Colegas; Promoção; e o próprio Trabalho que indivíduo realiza.

Quando algum destes fatores está representado de forma negativa para o indivíduo, sua satisfação e engajamento no trabalho podem diminuir, ao contrário quando esses fatores apresentam-se positivos, a organização tende a ter pessoas mais engajadas, menor rotatividade e absenteísmo, melhora na produtividade e desempenho de seus profissionais. Logo organização e colaboradores tendem a ganhar.

Fazer com que estes fatores sejam sempre positivos requer estratégia e uma cultura organizacional voltada para trabalhador, observando suas potencialidades e o reconhecendo como ser humano criativo, e não como parte da maquinaria.

O sofrimento no trabalho é algo real e que possui várias causas. É relevante que gestores e líderes estejam atentos para que todos possam trabalhar de maneira humanizada e enriquecedora dentro de suas organizações.

Focar atenção nas variáveis que estão ligadas a satisfação dos colaboradores nas organizações contribui para o desempenho organizacional, para a qualidade de vida dos indivíduos, bem como para o desenvolvimento da cultura de valorização do capital intelectual que é reconhecidamente um fator de competitividade para empresas, o que se demonstra muito importante no atual ambiente de concorrência acirrada e global.