GREP Disserta

O "GREP Disserta" é uma publicação quinzenal, fruto de debates do Grupo de Estudos em Psicanálise da Univiçosa. O texto de hoje trata do suicídio: uma referência ao Setembro Amarelo. 

Publicado em 13 de setembro de 2017

Karina de Oliveira Fialho: Estudante de Psicologia; Karina de Araújo Ferreira: Estudante de Psicologia; Nismaira Caetano De Paula: Estudante de Psicologia e Luciana Cavalcante Torquato: Professora do curso de Psicologia.

“A decisão que estou tomando é consciente. Decidi na plenitude de meu livre-arbítrio. Sei que isso é duro, porque sendo assim, ninguém tem direito à culpa e a culpa é o alívio dos fracos.
Lamento, mas concordo com Camus que o suicídio é a única questão filosófica verdadeira. Meu desejo comanda meu destino e a morte é a única liberdade.”

Personagem Pedro, filme "As melhores coisas do mundo".

Era uma vez...

Era uma vez um corpo que pulsava, sentia, respirava, mas já não o faz mais.

Por que deixar de viver se faz a única saída para alguns sujeitos? Quem é essa pessoa que decide morrer? Enquanto psicanalista o que se é possível fazer?

O suicídio é uma manifestação humana (outras espécies não atentam deliberadamente contra a própria vida), um ato resultante da vivência e da experimentação de intensa dor psíquica. Nessa situação, o ato de matar-se parece ser a única via de descarga possível. A tentativa de suicídio, como saída, põe em evidência um ato que precisa ser escutado e historizado.

Enquanto psicanalista, o que fazer então com tamanha dor? A principal ferramenta que o analista tem para oferecer é a escuta. É necessário que deixe esse sujeito relatar sobre sua dor, sem julgar ou interpretar, pois será assim que o mesmo conseguirá ir desatando seus nós, compreender os equívocos criados na relação que possui com o Outro. Além disso, é pelo falar que há implicação de perda do gozo, ou ainda reconhecer outros meios que pode perpassar esse gozo. É pela relação transferencial que esse sujeito se implicará e se responsabilizará pela posição de gozo escolhida para ocupar a relação com o Outro. Aprendemos com Freud e Lacan que a transferência é o amor dirigido ao saber.

A tentativa de suicídio, como saída, põe em evidência um ato que precisa ser escutado, daí a importância do dizer e do dito, pois em análise abrem um caminho para que o analista entenda a história e quais caminhos seguir naquele momento, o que causa o adoecimento psíquico que está levando o sujeito a uma manifestação significativa da dor.

A medicina prevê em seu código de ética que a vida humana está acima de tudo e tudo deve ser feito para preservá-la. Já a ética da psicanálise, que é a ética do desejo, convida o sujeito a não desistir de buscar o objeto que causa seu desejo e seu gozo, a bem-dizê-los, responsabilizando o sujeito pelo seu sofrimento.

Em uma análise, é na relação transferencial com o analista que o sujeito vai abrindo mão para a satisfação com a morte e passa a substituí-la pelo desejo de saber.

O Grupo de Estudos em Psocanálise da Univiçosa (GREP) é solidário à Campanha de Conscientização Sobre a Prevenção do Suicídio, Setembro Amarelo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

● CARVALHO, S.  A morte pode esperar? Clínica psicanalítica do suicídio. Salvador: Associação Campo Psicanalítico, 2014.

● Filme As melhores coisas do mundo. Direção: Laís Bodansky. Brasil, 2010. (105 minutos)